O final do ano chega sempre com uma promessa implícita de descanso, balanço e recomeço.
Mas para muitas mães — especialmente mães atípicas — ele chega como mais uma maratona.
É quando o corpo pede silêncio, a alma pede colo e a agenda responde com compromissos, expectativas e obrigações.
É quando todos falam de gratidão, mas poucas pessoas perguntam: “E você, como está?”
Porque a mãe, quase sempre, está ocupada demais sendo tudo.
Ela é mãe.
É profissional.
É dona de casa.
É esposa.
É mulher.
É amante (quando sobra energia).
É serva de Deus (mesmo quando está cansada de ser forte).
E, no meio disso tudo, precisa ser inabalável.
A maternidade atípica e o apagamento silencioso
Quando se é mãe atípica, o mundo aprende a olhar para a criança — e isso é justo.
Mas, aos poucos, esse olhar se torna exclusivo.
Todos querem saber:
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Como está a criança
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Se houve evolução
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Se a terapia deu resultado
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Se o comportamento melhorou
Poucos querem saber:
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Se a mãe dormiu
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Se ela chorou escondido
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Se ela teve medo
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Se ela ainda se reconhece no espelho
Aos poucos, a mulher vira bastidor.
A mãe vira função.
O ser humano vira resistência.
E ninguém percebe o peso de carregar um amor que exige vigilância constante, decisões difíceis, renúncias diárias e uma força que não se escolhe — apenas se exerce.
O cansaço que não aparece nas fotos
Existe um tipo de esgotamento que não melhora com uma noite de sono.
Ele mora no corpo, mas nasce na alma.
É o cansaço de explicar.
De justificar.
De lutar.
De sustentar esperanças quando o coração está cansado de ser valente.
É o cansaço de ser vista como “forte”, quando tudo o que se queria era ser cuidada por cinco minutos sem precisar pedir.
E, sim… às vezes dá vontade de fugir.
Não no sentido literal — mas naquele desejo silencioso de desaparecer do radar do mundo, nem que seja por um instante.
Sumir do barulho.
Sumir das cobranças.
Sumir das expectativas.
(E claro… levar a criança e o cachorro juntos, porque o amor nunca tira férias.)
O humor que salva, a fé que sustenta
Entre uma lágrima e outra, a gente aprende a rir.
Às vezes de nervoso.
Às vezes por sobrevivência.
Porque rir também é um ato de fé.
E a fé — essa que não aparece em frases prontas — é o que mantém a mãe em pé quando ninguém está olhando.
É ela que segura a mão trêmula.
Que sustenta o “vai dar certo” mesmo sem provas.
Que ensina que ser forte não é não cair — é levantar cansada mesmo.
Que no próximo ano a mãe também seja vista
Que o próximo ano traga mais do que metas.
Que traga olhar humano.
Que alguém pergunte:
“Como você está de verdade?”
Que a mãe não seja apenas lembrada quando precisa ser forte, mas quando precisa ser acolhida.
Porque antes de ser tudo para alguém, ela é alguém.
E isso — só isso — já deveria ser suficiente para que fosse cuidada também.

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